Monumentalmente, a freguesia de Fraião é pobre — pode escrever-se sem erro que é uma das mais pobres do concelho de Braga — e o sítio mais mediatizado é a fonte das águas férreas, dominado por um pequeno fontanário que terá sido o primeiro desenho do grande Carlos Amarante.
Trata-se de uma fonte que é conhecida pelo menos desde 1773, pelas suas características medicinais, sendo divulgada nas grandes publicações de hidrologia, a que se refere Pereira Caldas, em 1851. Já nessa altura, esta água é definida como cloretada com sódio e ferruginosa.
A nascente de Fraião era aquela que apresentava maiores teores de ferro, a partir de compostos de ferro acumulados no aluvião.
Na fonte à qual recorrem agora centenas ou milhares de pessoas, jorra água de uma nascente situada onde existe a rotunda que dá a para a avenida Alfredo Barros, entre o Carrefour e o Office Center, a 50 metros da antiga nascente e não é por isso uma emergência natural de água férrea. Trata-se do aproveitamento por gravidade de uma nascente situada a 200 metros para Sul da localização da fonte.
No entanto, não deixa de ser uma água cloretada sódica, com teores de ferro extremamente baixos, pelo que pode ser considerada uma água mineral natural, cuja pureza deve ser fiscalizada por análises trimestrais.
As principais indicações recolhidas em diversos autores incluem as anemias e úlceras atónicas (de evolução crônica, que apresentam granulações patológicas)
A qualidade da água mais referida pelos utentes na fila de espera para encher os garrafões é ser “muito fresca”, não lhe sendo atribuída nenhuma qualidade medicinal directamente.
Em 1997 a cadeia de hipermercados Carrefour instalou-se na zona sudeste de Braga, na freguesia de Fraião, onde a cidade iniciou a sua expansão urbana no início dessa década.
As obras obrigaram à deslocação da fonte do Fraião numa distância de 50 m do local original, conforme reza a placa comemorativa desta reinstalação: “Maio de 1997 - A actual fonte de Águas Férreas de Fraião localizada aproximadamente a 50 m da nascente não é uma emergência natural de água férrea, trata-se do aproveitamento por gravidade de uma nascente situada aproximadamente a 200 m para Sul da localização da fonte, é uma água hipotermal, cloretada sódica, com teores em ferro extremamente baixos, pelas suas características, a mesma pode ser considerada uma água mineral natural."
O actual fontanário é uma obra em granito da região, localizada nas traseiras do hipermercado numa pequena zona ajardinada, encontrando-se a um nível mais baixo do solo (cerca de 3 m na zona da bica), em forma de “L” invertido.
O primeiro lance de quatro degraus conduz a um primeiro patamar onde se encontra um banco de pedra corrido, sobre o qual está a placa comemorativa e um quadro onde são colocadas o resultado das análises feitas periodicamente ás águas. Outros quatro degraus conduzem ao átrio da bica.
A parede de frontão da bica é ladeada por dois bancos corridos em pedra. Na parede do frontão destaca-se, ao centro, a obra em pedra lavrada ao gosto barroco nortenho, em forma de grande escudo de armas, gasto pelos tempos. A água jorra de uma carantonha correndo para uma calha talhada no solo, de onde atravessa subterraneamente a fonte.
As águas são periodicamente analisadas bacteriologicamente pelo Laboratório de Análises de Águas e Fontes Industriais, sendo o requisitante a Junta de Freguesia de Fraião.
Historial
Na "Topografia Médica de Braga", de 1840, são relacionadas estas águas como caldas mandadas fazer pelo Arcebispo D. Freire Caetano Brandão, confundindo estas águas com a Fonte dos Galos, no rio Este. Esta sim teve em tempos umas “Caldas”, que já não existiam no fim do século XIX.
Esta Fonte volta a ser mencionada em 1867 como água férrea e “descoberta no tempo de Frei Caetano Brandão – Arcebispo Primaz”..
No Livro de Termo de Arrematação das Rendas de 1769-1791, Folha 49 e 49v, de 30 de Junho de 1773, da Câmara Municipal de Braga ( transcrito na placa comemorativa), esta obra foi iniciativa do Senado desta Câmara "para asseio e resguardo e pudor do povo com maior comodidade servir-se da água férrea novamente descoberta".
Ainda segundo essa placa, a água foi analisada em 1851 a custo da mesma câmara, e impresso um folheto com os resultados da análise, que foram publicados pelo erudito bracarense José Joaquim da Silva Pereira Caldas em Noções Therapeuticas sobre o Uso e Abuso das Águas Sulphurosas (1852), no "Jornal da Sociedade Farmacêutica" e em folheto brochado pela Câmara Municipal.
A fonte original foi mandada construir pela Câmara Municipal de Braga, no sítio que “fica místico ao Espadanido, arrabalde desta cidade, para asseio e resguardo e poder o povo com melhor comodidade servir-se da água férrea novamente descoberta”.
A empreitada foi entregue a Paulo Vidal, em 30 de Julho de 1773, um mestre pedreiro e morador na freguesia de Adaúfe, por oitenta reis, com “obrigação de a fazer na forma do risco que se lhe entrega assinado pela Câmara, como também mudará o rio, fará o desentulho, formará as paredes de segurança dele, tudo à sua conta e na forma do risco que viu e lhe foi apresentado”. Esta deliberação camarária mostra também o abandono a que esta fonte estava votada no século XVIII.
Mais tarde, em 1851, há notícia do pagamento de 18 reis a José António Peixoto Braga, por 600 exemplares dos “ensaios analíticos das águas férreas de Fraião”.
Civismo não jorra da fonte
A fonte mergulhou de novo numa fase de algum abandono ao qual foi posto cobro no final do século passado, com a construção do Hipermercado Carrefour, cuja implantação levava à demolição da Fonte.
Argumentando que a fonte era pública, a Junta de Freguesia de Fraião, opôs-se à sua demolição e resgatou-a, mediante um acordo celebrado com os representantes da multinacional francesa.
Só é pena que alguns aproveitem para ir à água e levem os cães que conspurcam o pequeno relvado que a circunda… mas isso é uma questão de civismo e respeito pelo que é dos outros que não se guarda em garrafões nem brota da fonte…